segunda-feira, 7 de agosto de 2006

EU SOU CÉU E MAR, E O MEU AMOR É IMENSIDÃO





ALGUMA MÁGOA


Vinha trazendo no coração uma mágoa antiga que só fazia doer. Não sabia o que
fazer com ela. E como apertava... E como doía... Ficava ela ali no canto
esquerdo, bem quieta. Dava os ares de sua graça nas horas mais impensáveis. E
como manchava... E como mexia... Pulava no peito como bola desgovernada que
desce a ladeira sem olhar para os lados. Queria esquecê-la. Queria traí-la.
Trancá-la lá fora sem pena da chuva. Deixando-a molhar como pano de porta, que
sem borda aos poucos se encharca. Queria poder juntá-la com as mãos e com
desespero de marujo perdido, arrancá-la para fora do barco. Deixá-la à deriva em
companhia das ondas. Ela que se salvasse. Que se afogasse lentamente na
imensidão fria dos mares. De longe eu acenaria em meu iate invencível,
lamentando por não ter feito isso há mais tempo. Feliz por ter extirpado todo o
tumor. Chegaria em casa tranqüila, talvez cansada da viagem. Tomaria uma
Novalgina e iria cheia de graça pra cama. Sonharia com cores impossíveis e
palavras ainda perdidas. Acordaria plena. Descansada. Completamente feliz.
Escreveria meus versos roubados do invisível e ouviria os sons capturados do
mundo. Prosseguiria vivendo a procura do irreal e do permitido. E seria feliz se
não fosse a falta que se alojaria no peito clamando pela mágoa uma vez perdida,
a reclamar junto com a lua sua ausência.
E-Mail:
aliceventuri@hotmail.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Não nego que é meiga e linda,
Entre mulher e criança,
Tão jovem, tão meiga, e ainda
Da vida no rosicler;
Mas tu vales mais do que ela,
Não conheces bem teu preço,
Acho-te muito mais bela,
Como és, - entre anjo e mulher.
(Gonçalves Dias)

Anônimo disse...

Rosa, não conheço a autora deste poema de hoje no seu blog, lindo, profundo, tenho uma resposta pra vc com o sentimento do poeta que vc tanto gosta.Fique com DEUS.

"Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme."

Autor: Fernando Pessoa